sexta-feira, 6 de agosto de 2010

A história de um tijolo.

Frios e duros dedos não mais guardam o poder da palavra.
A palavra quis embora juntamente com essa vida amarga e vazia,querendo escurecer no Seol que é para onde iremos quando tudo isso se esgotar.
Nada mais tem importância,aquela esperança de tudo se ajeitar pode esquecer.
Meus sonhos que tão lindos lhe acompanhavam esmoreceu diante destes tijolos enquadrados que você construiu para nos separar.Tu construíste o mais alto muro e não quis me assemelhar em tuas veredas.
De tão alto que é teu muro que tampaste meu sol e por aqui anda tudo muito frio.
Nem deixaste uma brecha para atravessar um fio de luz,somente tijolos frios de arrogância e desprezo.
Aqui de baixo se ouve as festas que costumas dar ao entardecer e também avisto suas novas mulheres a lhe envaidecer,sujas prostitutas que lhe agradam e lhe apodrece cada vez mais.
Secam-te a alma sugam teu espírito que de tão jovem e bonito despedaça em brumas negras de maldade e ganância,mediocridade e luxúria.
Há vezes que os gritos são tão altos que estremece a terra,caem pedaços de teus tijolos em minha cabeça e com estes tijolos escrevo rabiscado nestas paredes úmidas esverdeadas meus lamentos de solidão.
Sou tua prisioneira por acaso,pois quando estavas a construir teu grandioso palácio de muralha nem percebeu que ali do lado de fora estava eu a lhe ajudar na construção.
Passava-te os tijolos,cortava-os e lapidava para que iluminados eles sempre ficassem.
O muro já estava bem alto quando cansada sentei para descansar você cantava alto de alegria  melodioso.
Quando nem se deu conta de que estava eu do outro lado a clamar.
Gritei,murmurei e implorei para que me ouviste.
Rasguei meus dedos ao tentar escalar até tua janela.
Tinha a esperança que você pudesse olhar de sua janela pra baixo assim me avistaria e tentaria ajudar.
De dia o sol reflete nos tijolos que amorosamente lapidei fazem que brilhem tão forte que você não vê nada além de brilho intenso.
A noite é ainda pior a escuridão toma conta de todo espaço e as festas nem fazem você querer olhar para baixo.
Aqui está muito frio,sinto minha pele encolher cada dia mais,não tem comida porém nem sinto fome a dor é tanta que esqueço que existo.
Penso ser uma vida trancada num abismo,sem sonhos,sem promessas e sem amor.Aliás o que é mesmo o amor?
Aqui onde existo não existe nenhuma forma de tempo,espaço.
As lembranças que tenho ficam vagas no vazio da escuridão.
Fico tão próxima ao musgo e tijolo que estou começando a me tornar parte deles,minha pele se transforma em areia,mistura de calcário,argila,terra,musgo.
Começo a esquecer,meus pensamentos padecem,aqui não há mais mulher,poesia,amor,dor,lembrança e história,não há nada mais do que tijolos de uma construção abandonada.



5 comentários:

  1. belas palavras Annie, sempre surpreendendo as pessoas com tanta inteligência.
    estarei aqui sempre, sempre tentando te resgatar dessa parede de tijolos solitária e fria. te amo. ♥

    ResponderExcluir
  2. Eu não tento te resgatar de nada, se essa depressão poética te fizer demonstrar o que há de melhor que vc tem aí dentro, da solidão fria e escura que você esconde com os tijolos.

    ResponderExcluir
  3. sonho em um dia tirar tijolo por tijolo
    para te liberta, e com os restos dos tijolos
    contruir um alto mirante onde possamos ver
    o SOL nascer e a noite chegar e junto com as estrelas so quero te amar

    ResponderExcluir